Depois de um intervalo desde um 2022 pontuado por tantos desacontecimentos importantes, volto a esta coluna com o país sob nova direção e muitos e gigantes desafios pela frente. Com a certeza de que o setor cultural vai voltar a ter voz e vez. A gente nunca desistiu, apesar dos pesares, mas estamos precisados de suporte.
Para mim e para muitos roseanos 2023 vai ser muito importante, de celebração de 20 anos da Oficina de Leitura Guimarães Rosa IEB-USP, mais conhecida como Roda de Leitura, da qual sou uma das coordenadoras, juntamente com a Rosa Haruco e a Linda Yazbek Rivitti. São 20 anos divulgando a obra de Rosa, abrindo portas para novos leitores. A Roda foi criada pelo nosso amigo, na época professor de Geografia na USP, Dieter Heidemann, Nhô Dito para os íntimos, e hoje morador de Morro da Garça, a partir da necessidade que os pioneiros paulistas que visitavam o sertão sentiram de prolongar as sensações da viagem e a ligação com a obra de Rosa. Com o passar do tempo a Roda se tornou um potente consulado literário, produtora de eventos, aglutinadora das mais diversas manifestações da obra roseana. Um trabalho na maioria das vezes voluntário e feito com muito amor. Um trabalho de formiguinha com resultados incríveis.
E já vamos começar com força total. No dia 21 de janeiro, estaremos comandando uma Maratona Guimarães Rosa na Biblioteca do Parque Villa-Lobos em São Paulo. Será um dia inteiro dedicado à leitura de textos roseanos, uma celebração.
E de 23 a 27 de janeiro vai ao ar a segunda edição do Seminário Canto, Encanto e Leveza, parceria da Oficina de Leitura com a USP Ribeirão Preto. Neste ano vamos falar da natureza, tema tão caro a Guimarães Rosa, enfocando os elementos Ar, Fogo, Terra, Água e Homem humano, travessia. Contamos como sempre com a luxuosa colaboração dos nossos amigos e parceiros de Cordisburgo, Ronaldo Alves, Fabio Barbosa, Brasinha, Maristela Guedes, Elisa Almeida, Miguilins, e de Andrequicé, como José Antônio, da Samarra. No final, vou deixar o fôlder para quem se interessar. O material vai ficar gravado e posteriormente será disponibilizado para quem não puder assistir nos dias do evento.
Queria dar as boas-vindas a esse 2023 propondo uma lição de casa:
Não vamos perder o pasmo do mundo, como diz Fernando António. Vamos viver em flagrante infância, como o avô de Nas águas do tempo, do Mia Couto. Vamos nos comover em excesso, como Graciliano. Vamos acreditar que o mundo tornou a começar, como Riobaldo. Vamos viver exclamando vocativos, o princípio de toda poesia, como diz dona Adélia. Vamos caçar alegriazinhas, como diz minha amiga Darcy, aí de Cordisburgo. Vamos sintonizar na frequência das epifanias. Vamos ser como o gato, que descansa com os olhos abertos. Vamos ser como o sândalo, que perfuma o machado que o fere. Vamos ser um coração cheio de amor-agarradinho. Vamos ser como a flor de lótus, que nasceu no lodo, e que tantos simbolismos carrega: pureza, perfeição, sabedoria, paz, sol, prosperidade, energia, renascimento. Deus esteja e seja flor e seja pasmo e seja alegriazinhas e seja epifanias e seja poesia! Vamos nos sentar no banco das estórias. Vamos passarinhar!
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