Faço parte de um grupo
privilegiado que promove, na Casa da Árvore, uma Semana Roseana paralela,
particular, que acontece nos breves intervalos da Semana Oficial.
Esta estória começa em 2017,
quando encontrei nossa amiga Telinha na Caminhada se queixando de que estava
sozinha numa casa enorme, um desperdício. Parece que João Rosa soprou essa fala
nos ouvidos dela, porque já estávamos pensando mesmo, no ano seguinte, em
alugar uma casa pra acomodar os devotos. Falei com ela: “Uai, quem sabe vocês
não abrem a casa pra gente?” Ela ficou de falar com a irmã e dar uma resposta.
Espalhei a boa nova e torci pra um sim, que lá por março de 2018 veio. Juanita,
a irmã, disse que ia fazer um teste e nos receberia com café da manhã e pra
quem quisesse com almoço feito pela filha, a chef Aline. Neste ano formou-se
uma turma de 15 pessoas que se alojaram na casa. O que nem imaginávamos é que
seria tão bom, tão especial, a ponto de, no final dessa primeira semana, numa
fogueira-sarau que lá promovemos, ter uma fila de interessados que já queriam
reservar a casa pro ano seguinte.
Em 2019 a farra se repetiu com
mais 15 pessoas, turma composta do núcleo duro, que se hospeda nos quartos de
baixo, e de uma população flutuante, que se organiza nos quartos de cima. Fora
os convidados que aparecem para o almoço, os saraus, as fogueiras e o
tradicional churrasco de despedida de sábado, quando Geraldo, marido de
Juanita, o mineiro-gaúcho, e Moises, o gaúcho-mineiro, se juntam numa entidade
só.
Neste 2022 retomamos a
algaravia dos devotos, ruidosos na casa de quintal esplendoroso, de suculentas
fincadas em louças antigas, trincadas, desbeiçadas, em frigideiras que não
fazem mais comida boa, mas abrigam plantas magníficas, gavetas de armários que,
forradas de chita, se transformam em relicários vegetais. Enfim, toda uma fauna
de objetos que o comum das pessoas atiraria no lixo e para os quais Juanita
acha serventia, dando beleza a quem tem fome de beleza. Os quase desobjetos são
ressignificados e passam a contar outras e novas estórias. Pode-se dizer que
Juanita é uma espécie de Brasinha das plantas.
Viver a Semana Roseana na Casa
da Árvore é experimentar em dobro todas as emoções de estar na Cidade do
Coração. Aproveito para contar um pouco a estória desta casa que, não por
acaso, porta o número 88, o símbolo do infinito duplicado. Sincronincidências.
Neste mês em que se comemora O
Dia dos Pais, tiro o chapéu para um pai que nem não conheço pessoalmente, seu
Vanderlim Tiradentes, mas que me tocou profundamente pelas estórias que ouvi
sobre ele e porque, de um modo muito determinante, embora indireto, é
responsável pela estadia maravilhosa do nosso grupo em Cordisburgo. O homem por
trás da gênese da Casa da Árvore. Um coronel da Polícia Militar de Belo
Horizonte (embora militar falava baixinho até com os subordinados e era
respeitado), o homem que construiu um abrigo para a mãe, que antes morava em
Diamantina. E que nas férias e nos feriados levava a sua imensa prole pra
Cordisburgo, onde viviam grandes aventuras na mata, nos riachos, pescando,
percorrendo cada palmo do lugar. Depois vieram os filhos dos filhos e ele achou
por bem aumentar a casa, construir anexos (puxadinhos na linguagem de Minas) para
continuar a saga de alegrias com os netos. E foi esta energia de amor e
bem-querer que encontramos nesta casa, comandada pela Juanita Guedes, nossa
anfitriã mais que especial, irmã da nossa doida amiga Maristela Guedes, uma que
nem não perdeu o trem para Barbacena, posto que lá vive. Telinha, que abriu as
portas para esta experiência única que é viver dias de muitas contações de
estórias, que começam no café da manhã, perpassam pela Loja do Brasinha, pelos
saraus, pelos Miguilins, e se estendem noite adentro, quando voltamos exaustos,
mas felizes, praquela cozinha tão acolhedora pra fazer um caldo ou matar a
larica e detonar o bolos de cenoura com calda de chocolate que sobraram do café
da manhã, feitos pela neta-chef Aline.
Cozinha onde as estórias recomeçam, num ciclo sem fim, as mil e uma
noites do sertão. De alguma maneira seu Vanderlim, que hoje vive em BH, é nosso
pai nestes dias desta viagem sempre intentada e inventada no feliz! Um pai que
não urdiu o barco da Terceira Margem, antes construiu balsas para as Margens da
Alegria!
Mas a minha viagem ainda não
terminou. Vamos ao terceiro capítulo:
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