Em 27 de junho de 1908, na casa onde hoje se celebra a mais alta literatura, onde se mantém viva uma grande obra, de onde entramos e saímos como se fôssemos um pouco proprietários dela, nasceu um menino, que por pouco não se chamou Ladislau, o santo do dia. O gosto pelo nome era de seu Florduardo, mas, pelo que consta, prevaleceu a preferência de Dona Chiquitita, João, em homenagem ao santo do dia 24, tão popular no Brasil.
Ladislau foi um rei da Hungria (1040-1095) que passou para a história como virtuoso e caridoso, sendo por isso canonizado pela Igreja Católica. Descrito como de estatura elevada e majestosa, nas guerras ele sendo o primeiro em cima do cavalo. Lembra algum personagem de Grande Sertão: Veredas? Mais tarde, curiosamente, João traria um Ladislau para o conto Intruje-se, de Tutameia. Por pouco não estaríamos hoje celebrando o grande escritor Ladislau Guimarães Rosa. Eu penso que não orna.
Este perequetê todo só pra dizer que nós, roseanos, achamos que está mais do que na hora de o dia 27 ser uma data comemorativa na mesma linha do que fez o Instituto Moreira Sales, que desde 2011 estabeleceu o 31 de outubro, data de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, como o Dia D, quando acontecem várias celebrações à altura da poesia dele. Seria o Dia GR?
Ou ambiciosamente, como na Irlanda, com o Bloomsday, que acontece em 16 de junho, dia de homenagear o personagem Leopold Bloom, protagonista de Ulisses, de James Joyce. A nossa amiga Roseana Cleide Castellan, que já viveu um Bloomsday, faz algumas considerações interessantes: “Neste dia as pessoas se vestem como Joyce, ou como os personagens, e vão para a rua como se fosse normal estar vestidas assim. A cidade vive e respira Joyce. É uma normalização da vida dos personagens no cotidiano das pessoas. A gente acaba fazendo uma ligação imediata com a semana Roseana, quando falamos dos personagens de Rosa como se fossem pessoas reais. Isso é muito bonito e acontece de uma forma em Dublin e de uma forma diferente em Cordisburgo, mas no fim é a mesma coisa, a incorporação do escritor e dos personagens na vida das pessoas. A diferença é que em Cordisburgo e no sertão você ainda encontra pessoas que lembram personagens de Rosa, que parecem saídas de um livro do Rosa. A literatura ganha vida, e a literatura ganhando vida, a vida ganha mais literatura, a vida ganha uma literatura diferente, uma literatura presente, e isso é mágico. E nestes tempos tão melancólicos, tão bicudos, esta mágica se faz cada vez mais necessária. Quem sabe um dia ainda a gente desfile por Cordisburgo vestidos como os personagens de Rosa?”
No dia 27, segunda-feira, nós, da Oficina de Leitura Guimarães Rosa, vamos nos encontrar na Biblioteca do Parque Villa-Lobos para um piquenique literário em honra a João. Vários foram os nomes sugeridos, RiobalDIA. DIAdorim, DIAdoRosa, RosaDIAdorim. A proposta é que a data entre definitivamente para o calendário roseano. Vamos começar pequenos, quem sabe alguma instituição como Moreira Sales, Itaú ou IEB encampe a ideia.
No Villa-Lobos vamos rosear, narrar trechos da obra, degustar doce de buriti, cantar, dançar, bordar, distribuir rosas de crepom com frases Rosa, praticar a máxima roseana “Dar beleza a quem tem fome de beleza também é um dever cristão”.
Outras iniciativas poderão ser acrescentadas a essa, como plantio de árvores, o que aqui em Matrix é mais difícil, pois depende de autorização em 500 vias de otoridades de parques e campis. Tentamos uma vez sem sucesso. Ano que vem vamos pedir essas autorizações com mais antecedência. Para vocês do sertão é mais simples, bora lá?
A minha sugestão é que cada árvore, ou conjunto delas, de acordo com o seu temperamento, receba em batismo o nome de uma personagem ou de um episódio da obra. Já imaginou uma Alameda Verde Alecrim? Um bosque nomeado Guararavacã? Um ipê Diadorim? Uma paineira Riobaldo?
Nas palavras de outro amigo roseano, Moises Nascimento, “as comemorações do Bloomsday se passam numa cidade grande, Dublin, e os devotos fazem uma caminhada percorrendo a geografia de Ulisses. Na casa de Joyce há até um aplicativo que ajuda a ler a obra e sinaliza esses pontos da cidade. Nos parques do Ulisses e do Finnegans Wake são tocadas, e a gente se vê de repente num universo paralelo. É uma experiência interessante, pois entramos numa obra que a gente não conhecia e num tempo que a gente não viveu, a década de 20”. Claro que a geografia roseana é muito extensa e um dia não basta para ser percorrida, mas em Cordisburgo é possível instituir, no dia 27, uma caminhada percorrendo os marcos territoriais que já existem. Bora lá?
De qualquer modo poderemos fazer uma comemoração tardia na Semana Roseana, quem sabe o baile A noite dos temulentos, sugerida pelo Ronaldo Alves há alguns anos, mas nunca concretizada, onde cada um iria fantasiado de seu personagem roseano favorito? Neste ano, pela situação ainda delicada da pandemia, poderíamos fazer um ensaio ao ar livre, um grande cortejo, O dia dos temulentos, pelas ruas de Cordisburgo, quem sabe? E, aboiando a tropa, Brasinha, o nosso Riobaldo! Todos amarradinhos em Deus!
Delírios à parte, neste dia, que em cada canto onde haja um roseano, que se pratique uma liturgia, ler em voz alta um dos seus trechos preferidos.
Eta Reca, sapeca que escreve com graça graciosa gradando a gente do princípip ao fim. Viva GRosa,viva 27, 2+7=9, 9 fora = zero
ResponderExcluirRegina! Tomara que essa ideia diga seu curso e se faça realidade!!! É mais uma maneira de celebrar o nosso grande escritor brasileiro! Viva o DiadoRosa!
ResponderExcluirReceba os parabéns desta nova leitora e recém iniciada nas artes rosianas com muita paixão
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