O pesquisador, roteirista e produtor cultural Luiz Gilmar de Castro Furtado, natural de São Thomé das Letras, e o fotógrafo argentino Alexis Exequiel Schiaroli estão entre os destaques da edição 2025 da Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontece esta semana na cidade histórica fluminense. Eles apresentarão o projeto "Pelas Palavras e Passos de Guimarães Rosa", uma imersiva travessia cultural inspirada na célebre jornada realizada por João Guimarães Rosa em 1952, a qual deu origem à obra-prima Grande Sertão: Veredas.
Entre abril e maio deste ano, os dois percorreram mais de 3.000 quilômetros pelo sertão mineiro, durante 40 dias, em busca de histórias, memórias e expressões da cultura popular, especialmente da oralidade, que pulsa nos rincões do Brasil profundo. O trajeto passou por diversas cidades e comunidades, e resultou em ações culturais como a Noite Guimarães Rosa em São Thomé das Letras, seminários em escolas públicas, além de encontros com comunidades quilombolas. Mais de mil estudantes e educadores participaram das atividades ao longo do percurso.
A apresentação na FLIP está marcada para o dia 1º de agosto, no Hostel Dona Generoza, gentilmente cedido pelo historiador Marcell Moraes, na Rua Mal. Deodoro, em Paraty. O evento promete envolver o público com uma proposta sensorial e poética, por meio de leitura dramatizada, projeções audiovisuais, depoimentos colhidos na viagem e trilha sonora especialmente elaborada para a ocasião.
“Participar da FLIP é mais do que uma conquista: é a chance de levar o nome de São Thomé das Letras ao maior palco literário do país e de mostrar que a literatura continua viva, pulsando nas vozes e nos caminhos do Brasil profundo”, destacou Luiz Gilmar.
Para o fotógrafo Alexis Schiaroli, a experiência de cruzar o sertão mineiro foi também uma travessia pessoal. “Cada encontro, cada paisagem, cada silêncio carregava uma densidade que não se explica, se sente. A oralidade aqui é viva, pulsa como o coração da terra. Guimarães Rosa não escreveu apenas sobre o sertão. Ele escreveu com o sertão. E nós tentamos fazer o mesmo”, declarou.
A travessia cultural também inspirou a criação da peça O Sertão de Guimarães, encenada pela Companhia Teatral Voz da Terra de São Thomé das Letras, com adaptação e direção de Iara Fortuna. A iniciativa contou ainda com o apoio da Lei Paulo Gustavo, por meio da qual Luiz Gilmar foi contemplado para uma Residência Artística no Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo.
A partir dali, o pesquisador continuou seu percurso por outros marcos rosianos: participou da Cavalgada Cultural Grande Sertão Veredas, entre Buritizeiro e Paredão de Minas; explorou o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na Chapada Gaúcha Mineira; e promoveu seminários com estudantes em diversas localidades.
Em Cordisburgo, berço de Guimarães Rosa, Luiz Gilmar visitou a Gruta de Maquiné, participou de atividades com os Miguilins e conheceu familiares do autor, como Brasinha, Dôra e Gabriel Eugênio. Também entrou em contato com o grupo Estrela do Sertão, que borda frases do escritor mineiro em tecidos, perpetuando sua obra com arte popular.
A jornada seguiu ainda por Andrequicé, terra de Manuelzão, onde foi acolhido por projetos culturais voltados para o teatro, a dança cigana, a folia de reis e o bordado. Em Belo Horizonte, assistiu à montagem da Ópera Matraga, baseada no conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, apresentado no Palácio das Artes.
Ao longo de toda a trajetória, mais de 1.500 alunos e professores da rede pública participaram de seminários conduzidos por Luiz Gilmar, reforçando a importância da literatura e da cultura popular como instrumentos de memória, pertencimento e transformação social.
“Levar o que vivi em São Thomé das Letras até a FLIP, e depois transformar isso em troca, em escuta, em aprendizado coletivo, me tocou profundamente. A cultura que carrego não é só minha - é de todos que vieram antes de mim. E poder dividi-la com quem está começando sua caminhada é como acender uma fogueira que não se apaga”, concluiu Luiz Gilmar.
COMENTÁRIOS