Sabe, tínhamos um desafio, como de fato promover o empoderamento de uma cozinheira da zona rural, como mostrar a ela que aquela receita, que ela traz da sua mãe, da mãe da sua mãe, que alguém disse a ela que é patrimônio cultural, mas que na prática não muda nada na vida dela!
E por isso, as campanhas, na minha opinião, apesar de necessária, é pouco efetiva no empoderamento de quem mais precisa, a cozinheira.
É ela que precisa entender seu valor, se apoderar dele, e isso deve ser um fator de mudança na vida dela, caso contrário, morre com o tempo! Ora se a cozinheira não se empodera, isso se perde, poder sem dono!
Uma pausa no tema. A Caminhos de Rosa é uma grande vitrine para atletas do Brasil e do Mundo, pois recebemos atletas de 23 estados e 7 países, e por vezes, penso que é uma excelente oportunidade de divulgar e promover a cultura local. Em um dia de evento costuma passar mais de mil pessoas por lá, a grande maioria de alto poder aquisitivo, e que vem em busca dessas interações, mas sempre fica a pergunta, COMO aproveitar tudo isso de uma maneira leve, harmônica e que de fato possa fazer a diferença, ou pelo menos, ser o ponta pé inicial!
Por isso, quando fomos convidados para ir para Paraopeba, levamos essa ideia, como usar todo este potencial cultural e turístico, que apesar de ser simples, nada mais é do que o jeito mineiro de ser, isso é a essência de ser mineiro, sem vícios, sem maquiagem, sem nada, só mesmo o mineiro dentro a sua rotina.
A prefeitura adorou a ideia e deu total apoio, mas voltou a bola para nós, e agora, precisamos pensar em uma forma diferente, que achássemos que fosse mais efetiva. Mas para isso, não tinha aonde copiar, teríamos que criar algo do zero, nunca antes feito. E a cabeça começou a coçar, além do evento em si, precisávamos resolver essa questão das Quitandeiras.
Marcamos um primeiro encontro, e comecei a explicar para elas o que era o evento, o que a gente precisava, qual a expectativa do público, e claro, pedia sempre que elas falassem o que achavam, quais as dificuldades, no fundo, queriam ganhar tempo para ver como fazer algo diferente.
E foi pensando em treina-las, uma por uma, agendando na casa delas, que pensei, em um lugar onde elas pudessem servir seus quitutes para as pessoas provarem, mas quem provaria? Pensei logo, quem seriam as pessoas mais importantes para elas? Prefeitos, influenciadores regionais, familiares, autoridades locais.
Percebi na hora, olhos arregalados, procurando um lugar onde se fixarem, era isso! Elas jamais esperavam cozinhar para “tanta gente importante” de uma única vez.
Chamei o diretor de cultura do município, Flávio, para a sala de treinamento, e soltei uma ideia, que veio na minha cabeça na hora.
- Flávio, queria propor algo para a prefeitura e as meninas, vou convidar 10 chefes de cozinha, para ajudar as meninas de duas formas. Eles vão ajuda-las a melhorar a aparência do produto que elas vendem, e depois como usar este produto na elaboração de um prato. Haverá apenas duas regras, sob hipótese alguma se poderá alterar a receita e o modo de fazer do produto, afinal, ele é patrimônio imaterial e por isso não pode sofrer alterações. Segundo, para fazer os pratos, os chefes deverão ir a feira com elas escolherem os ingredientes do prato, afinal, eles precisam ser produtos que fazem parte do cotidiano delas – continuando – e queria ver com a prefeitura nos ajudar com o seguintes pontos:
- se poderíamos dar um uniforme personalizado a cada uma, contendo uma dolma e um crock;
- disponibilizar um espaço para elas prepararem as refeições;
- convidar autoridades políticas e influenciadores locais;
- disponibilizar transporte e acomodação para os chefes e imprensa convidados;
Ele não gaguejou e disse sim!
Estava feito e na semana seguinte convidamos a Frente da Gastronomia Mineira para estar presente, como chefes e como divulgação, que teve um aceite imediato! Arrumamos maquiadoras para as cozinheiras.
Agora é esperar o dia 26 e 27 de junho para receber todos vocês em Paraopeba para ver o resultado da campanha. Estamos muito otimistas e certos de que este será apenas o primeiro passo, pois ano que vem, vamos levar esse projeto a todas as cidades em que o Museu de Território Caminhos de Rosa percorre, Cordisburgo, Morro da Garça, Curvelo e Três Marias.
Sobre o museu de território, depois contamos com mais detalhes. Mas podemos dar um spoiler! Guimarães Rosa esteve no sertão em 1952, em uma viagem que durou 10 dias, tocando uma boiada, mas sua passagem foi além, foi dessa experiência que se inspirou para escrever Grande Sertão: Veredas, um diário, e um lgeado cultura, que a população abraçou e desenvolveu um legado cultural fantástico, baseado nisso que contei, e que agora ganhará um roteiro turístico estruturado de 5 dias. Uma imersão cultural na vida e obra do Guimarães Rosas, ops, do Sertanejo, melhor, dos dois!
Se quiserem mais informações, podem acessar www.caminhosderosa.com.br ou nos enviar um email diretor@caminhosderosa.com.br.
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