Chico Lobo esteve pela primeira vez em Jequitibá, capital mineira do folclore, no fim dos anos 90. Localizado na região Central do Estado, o município e seus distritos concentram a memória e a sabedoria de diversas manifestações da cultura popular, como o congado, a Folia de Reis, a viola caipira e a dança de roda. Foi na zona rural da cidade margeada pelo Rio das Velhas que Chico Lobo conheceu o violeiro e mestre folião Nelson Jacó, que viria a se tornar seu parceiro de shows e discos. O músico também cita Seu Zé Limão como uma referência. Por essa relação tão próxima, quando Chico Lobo pisou novamente na cidade foi como se estivesse em casa.
Chico é uma das atrações do Festival de Folclore de Jequitibá, realizado desde 1988 e que, a partir desta segunda-feira (21), exibe sua programação (detalhes no fim da matéria) em uma edição online e gratuita. O violeiro poderia ter gravado seu show em Belo Horizonte, mas fez questão de fazer o registro em uma das comunidades do município, sem plateia e com todos os protocolos exigidos pelo momento pandêmico.
“Minha participação é muito alegre, reflete bem esse meu relacionamento com Jequitibá. Contei histórias do meu aprendizado com os mestres de lá e toquei algumas canções, como ‘Zóio Preto Matador’, ‘No Braço Dessa Viola’, e estreei uma música chamada ‘Folia Consagrada’”, destaca o compositor.
Com Paulinho do Boi e José Raimundo, Chico Lobo também participou do debate “O Folclore na Alma Coletiva”. “Foi um encontro lindo. Falamos sobre como é importante valorizar o folclore no século 21, como ele pode resistir a estes novos tempos. O folclore não deve ser visto meramente como atrativo de turismo, mas como uma realidade viva e dinâmica”, afirma o músico.
Marcada pela diversidade, a programação do Festival de Folclore de Jequitibá ainda reúne oficinas de artesanato, gastronomia, dança e teatro, apresentação de Folias de Reis e Guardas de Congo, rodas de conversa e uma missa em homenagem aos folcloristas. Durante o evento, viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc, será lançado o documentário “Lagoa Trindade: Um Canto, Um Conto”, registro sensível sobre a memória da comunidade quilombola situada no entorno de Jequitibá.
O filme é um desdobramento da tese de doutorado da psicóloga Ana Flávia Costa. A partir de depoimentos de crianças e jovens, adultos e idosos moradores do local, o filme propõe o diálogo entre gerações e traça a memória do local por meio das lembranças de seus moradores.
“A narrativa central está na Dona Dorvalina e no Seu Ildefonso. Eles retomam o passado, falam da escravidão, de histórias de luta e resistência, da tentativa do apagamento da memória do povo negro e da relação deles com a comunidade”, comenta Ana Flávia.
Mulher e congado
Gércica Lopes é a terceira capitã da Guarda Oficial de Nossa Senhora do Rosário de Jequitibá, grupo de congado criado por seu pai, o Mestre Zaninho, há mais de duas décadas, e que atualmente conta com 38 integrantes de diversas faixas etárias. Em um dos eixos do festival, Gércica vai falar sobre a presença da mulher no congado. Segundo a jovem, de 26 anos, os grupos, com o passar do tempo, foram se abrindo cada vez mais à participação feminina.
“Tinha um preconceito maior, mas hoje isso vem mudando, até pelas conquistas das mulheres em vários setores da sociedade. Nossa presença é muito importante e hoje já existem grupos de congado só de mulheres”, ela pontua.
Sobre a edição online, Gércica lamenta a impossibilidade de realizar o festival no formato presencial e espera a volta do modelo tradicional para 2022. No entanto, ela enxerga uma grande vantagem no evento virtual: “O fato de ser transmitido para o mundo todo é muito legal. Queríamos tocar ao vivo, mas não tem jeito. O online acaba sendo uma forma diferente de comunicação e várias pessoas em outras cidades, que não conhecem o congado, vão ter a possibilidade de saber como são as músicas e como se toca”.
Programe-se
Desta segunda-feira a domingo (27), o Festival de Folclore de Jequitibá reúne shows, apresentações de congado, Folia de Reis e Guardas de Congo, debates e oficinas de artesanato, gastronomia, teatro e dança. Gratuita e online, a programação será exibida pelo canal da Az Produções, organizadora do evento, no YouTube. Informações pelo endereço linktr.ee/folclorejequitiba.
Por O Tempo
Foto: Reprodução/Divulgação
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