Imagem: Brasil Hipismo |
Enquanto as vias da capital se enchem de foliões em busca de um
Carnaval que só cresce, o interior de Minas Gerais exibe a festa com
manifestações culturais de grande importância e tradição. Várias delas
possuem mais de cem anos, e continuam atraindo turistas graças à beleza
de suas fantasias, costumes e brincadeiras que invadem os becos e ruas
de nossas belas cidades do interior.
Repletas de cores, bordados, bonecos, máscaras e até mesmo cavalos,
essas primeiras manifestações carnavalescas mineiras vão alegrar a folia
neste ano. O secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo,
salienta o peso dessa tradição mineira quanto o assunto é confete e
serpentina. “O Carnaval mineiro mantém algumas das mais antigas e
originais tradições da grande festa popular do Brasil. Aqui, o carnaval é
cultura”.
Conheça abaixo algumas dessas manifestações carnavalescas:
O Cai-N´Água, em Oliveira
O Dominó, um personagem encapuzado lúdico, crítico, romântico, e
simultaneamente assustador e receptivo, é o arauto, o anunciador do
Carnaval de Oliveira, que comemora 150 anos em 2016.
Essa curiosa figura carnavalesca tem origem em duas festividades
religiosas bastante antigas e tradicionais: o Triunfo Eucarístico (Ouro
Preto/1733) e o Áureo Trono Episcopal (Mariana/1748). Um século depois, o
Dominó foi incorporado às festas populares.
A figura é remanescente da
concepção original do farricoco da procissão de Braga (Portugal) e de
Sevilha (Espanha).
Segundo o pesquisador Marcio Almeida, já em 1549 o padre Manuel da
Nóbrega relata em uma carta a procissão que se fazia no Brasil, "mui
solene", quando havia "danças e invenções à maneira de Portugal”.
Em 2013 o bloco Cai-N’Água foi registrado como Patrimônio Imaterial
do município, um reconhecimento da importância desta manifestação
cultural.
O Carnaval a Cavalo, em Bonfim
Em Bonfim, na região central, os animais aproveitam a festa para sair
do cocho. O Carnaval a Cavalo surgiu a partir de desentendimentos numa
festa de Cavalhada de Mouros e Cristãos, em 1840. Desde então os
cavaleiros mascarados saem em cortejo e fazem evoluções em ritmo
carnavalesco, conforme explica Leonardo Maurício, presidente do Clube do
Carnaval à Cavalo.
“É uma brincadeira organizada. Cada cavalheiro prepara a sua fantasia
de veludo bordado com pedras, mas todos têm que seguir as regras. O
arreio tem que estar coberto pela cor vermelha e o cavalo precisa ser
enfeitado com flores presas ao coro. Mantemos tudo nos conformes para
que não se perca a tradição”.
A Secretaria de Estado de Cultura mantém convênio com o clube, que se
consolidou como um Ponto de Cultura. Foram repassados R$ 180 mil para
equipar a sede e manter a estrutura e manutenção do espaço, que
disponibiliza para a população local máquinas para pesquisa além de
cursos de fotografia e cultura popular.
O Sapo Seco, em Diamantina
O senso crítico despertado em meados do século XX ao se tratar dos
problemas sociais em pleno carnaval remonta à tradição da "Banda Fogosas
do Sapo Seco". Ao longo do tempo e já com o epíteto resumido para
"Banda do Sapo Seco", as sátiras continuaram a ironizar importantes
passagens da história de Minas.
Neste ano, o tema remete ao rompimento das barragens em Mariana.
“Esse Carnaval traz para as ruas os assuntos que muitas pessoas esquecem
nesta época”, conta Wilton Brant, presidente do bloco.
As tradições satíricas tiveram início quando um grupo de folguedos
mascarados da família de Elias Sapo Seco utilizava do humor para
criticar fatos da Diamantina daquela época. Eles trajavam alegorias e
máscaras artisticamente confeccionadas por cada um de seus integrantes.
A partir daí, tornou-se um dos principais motes dos carnavais
diamantinenses. O cortejo composto somente por homens “sapos” desfila
pelas ruas, tendo à frente um estandarte com os dizeres da bandeira do
ano.
O Zé Pereira, em Ouro Preto e Mariana
Desde 1867, o Clube dos Lacaios de Ouro Preto sobe e desce as
ladeiras da velha Vila Rica, cadenciando o ritmo do Zé Pereira. Os
Cariás são pequenos diabos que arrancam faíscas do calçamento, abrindo
caminho para os Catitões, o Português e a Baiana, enormes bonecos à
frente da bateria.
Segundo o atual presidente, Arthur Carneiro, a tradição é algo que
perpassa gerações. “Há famílias que fazem parte do grupo há várias
gerações. Para mim é uma honra poder assumir, aos 20 anos, um dos blocos
mais antigos do país, com seus 149 anos”.
A batida do Zé Pereira surgiu naquela época, no Entrudo do Rio de
Janeiro, e da corte chegou à capital da província de Minas, graças ao
bloco formado pelos empregados do Palácio dos Governadores, que fundaram
o Clube dos Lacaios. Em Mariana, o também centenário Zé Pereira da
Chácara faz a abertura dos desfiles, com os grandes bonecos na
dianteira.
Além dos três bonecos mais tradicionais - o Catitão, Baiana e o
Benedito - feitos de papel marchê na década de 50, personalidades
ouro-pretanas como Sinhá Olympia, Jair Boêmio, Valdir do Rádio, Ninica e
Tiradentes foram recentemente materializados em bonecos em uma oficina
do Festival de Inverno. Tocadores de tarol, caixa, surdo e bumbo,
acompanhados dos clarins trazem para a cidade barroca as composições
próprias e tradicionais do Clube dos Lacaios.
Fonte: Agência Minas
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