Coluna Anacrônicas - Onde mora São José

Peço desculpas, ando meio sumida, consumida por uma reforma necessária no meu apartamento em Matrix. Mas nesta manhã de sábado parei para reverenciar São José, no dia dele. Pra mim são Josézim. E na minha imaginação ele mora no definitivo é na capelinha azul e branca em Cordisburgo. Ao longo dos anos estabeleci um ritual: ao chegar na Cidade do Coração, vinda da banda de Curvelo, com os olhos cheios de paisagem, paro por lá pra pedir permissão e que tudo dê certo na nossa estadia na Semana Roseana. E ao partir, levando na bagagem todas as bênçãos de dias tão iluminados, entro para agradecer pelos momentos vividos em pura fruição. E se chego da banda de Belo Horizonte, ao adentrar no burgo, meu coração bate mais forte ao avistar a feição tão risonha da sua porta e das suas janelinhas azuis nos saudando.

Nos últimos anos, nós, os devotos do Rosa, andamos muito preocupados com a segurança deste belo patrimônio por causa dos treminhões que passam em desabalada carreira em direção a Curvelo ou vindos de lá. Sugerimos que fosse feito um desvio, pra que essa construção secular descanse das mazelas da vida moderna. Em 2019, na última Semana Roseana presencial, foi dito que estava em curso a desapropriação de uma área para que a obra fosse feita. Se passaram três anos e eu gostaria muito de ter boas notícias sobre o andamento deste processo. Esta construção tem um papel muito importante na história e na memória, é marco de fundação da cidade. Em 1883, quando padre João de Santo Antônio, ao reconhecer nesta paisagem contornos tão belos e horizontes tão amplos, resolveu fundar um arraial, mandou erguer a capela, a primeira morada do sagrado, que em junho do ano seguinte estava concluída. Imagino a festa que foi a chegada da imagem do patriarca São José, que veio de Paraopeba, antiga Taboleiro Grande, trazida pelos moradores dos arredores. Esta cena me remete à inauguração da capela de Manuelzão nos arredores de Andrequicé. Devem ter sido dias de muita algaravia.

Dona Luzinha, vizinha e íntima de São José, me contou da saga que foi certa feita reformar a capela, expulsar os cupins, escorar o teto que ameaçava desabar, tendo ela mesma hospedado os pedreiros, que eram de fora, na própria casa. Dias de muita coragem e fé.

A foto que ilustra esta crônica foi um momento mágico. Tantas auroras presenciei. De tantas me esqueci. Mas de algumas me recordo como um alumbramento, uma epifania. E dessa jamais me deslembrarei: era domingo, dia de dizer adeus a uma semana de pura fruição. Dona Luzinha, minha anfitriã, depois de coar o café saiu pra buscar o pão e tocar o sino anunciando missa na igrejinha singela. Um clarão me chamou e eu corri pra rua, a mesma que pouco antes, numa madrugada gelada, me vira andando de joelhos cumprindo promessa a São José pela classificação do Galo pra final da Libertadores. O diálogo com essa aurora foi rápido, coisa de um nanossegundo. Mas alumia meus dias até hoje! “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”

Você de Cordisburgo, se me ler, peço um favor, vá até a capelinha, leve uma flor pra São José em meu nome, diga que tenho saudades, que três anos sem vê-lo é muito tempo. Peça paz, saúde e coragem, que disso estamos precisados. E se possível reporte o que ele respondeu.