Para entrar na Gruta da Morena é preciso romper por um cerrado fechado, que na seca é puro espinho e nas chuvas, terreno escorregadio. Mas, frente à boca enorme de rochas da cavidade, percebe-se sua integral harmonia com o meio natural, trazendo tanta umidade que a mata do entorno é sempre verdejante. Porém, logo na entrada já há alterações feitas pelo homem, como escadarias de madeira e degraus escavados no solo por uma equipe de produção cinematográfica e por intrusos. Mas no interior ainda está preservada uma profusão de vida, com bagres e outros peixes, grilos, aranhas, mariposas e morcegos.
As formações rochosas são também impressionantes, com sequências esguias e tortuosas de estalagmites e estalactites, que indicam justamente por onde a água passou, pingando do teto. Em alguns lugares na parede há também escorrimentos desse material calcário, conhecidos em grutas turísticas como véu de noiva, que formam fluxos de cristais cintilantes às lanternas. Seguindo para o interior avistam-se outras formações cristalinas e um rio subterrâneo, completamente protegido por estar dentro da caverna.
“Minas é muito rica em cavernas, tem uma diversidade geológica muito grande. São calcárias, de minério de ferro, de quartzito...”, enumera a também diretora da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) Teresa Maria Aragão. Com os aventureiros que foram conhecer a Gruta da Morena, ela considerou ser muito importante a reunião dos vários grupos de espeleologia do Brasil no congresso. “Trouxemos vários trabalhos e palestras voltados para a preservação das cavernas, para a bioespeleologia, que é o estudo dos animais das cavernas, a geologia, a parte turística ou ambiental. A espeleologia no Brasil é pouco conhecida, apesar de interferir com várias áreas do saber, como a biologia, a paleontologia e a arqueologia. Ou seja, temos a história do planeta Terra dentro das cavernas”, considera.
Para uma das organizadoras do congresso, Débora Lara Pereira, da Sociedade Excursionista Espeleológica (SEE) – uma das mais antigas do Brasil, completando 80 anos –, a importância de o congresso ocorrer em Ouro Preto é justamente a proximidade das vários tipos litológicos (de rochas) das cavidades. “Temos cavernas ferríferas, de quartzito, de mármore, de calcário, entre outras. E temos também a discussão de um tema novo, que é a profissão de espeleologista. O destaque principal é a formação da Escola Brasileira de Espeleologia”, considera. De acordo com a SBE, essa discussão objetiva maior profissionalismo e disseminação do conhecimento e ensino sobre as cavernas nacionais.
O estudante de geologia Tom Morita, integrante do Grupo de Espeleologia da Universidade de São Paulo (USP), conta que seus colegas vieram em peso em uma excursão de 10 pessoas participar do congresso. “Tivemos uma experiência muito diferente em termos de formações geológicas. É muito diferente do que vemos na região de São Paulo, como no Parque Estadual do Alto Ribeira”, conta. “Coisas, por exemplo, relacionadas à sedimentação, às rochas das quais as cavernas se formam. São muito antigas aqui e a gente vê algumas estruturas e estratificações que são difíceis de se ver com tanta clareza no nosso estado”, disse.
Por Estado de Minas
Foto: Edésio Ferreira EM DA Press
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